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O frade frei Vitório

Nosso professor de português no Colégio Fidelense, Expedito Neme, costumava aproveitar toda oportunidade para nos passar alguma dica interessante sobre certas sutilezas da linguagem. Eu tinha até um caderninho especial onde ia anotando cada uma daquelas lições fora do script.

     Certa vez, por ser véspera da festa do padroeiro (São Fidélis de Sigmaringa), ele interrompeu a aula para perguntar se a gente sabia quais foram os fundadores da cidade. Um dos alunos, todo prosa, respondeu: “Foram dois freis capuchinhos”. “Nota 5 – sentenciou o mestre. Para ganhar 10 você deveria ter dito que foram dois frades, não dois freis”.

     Ficamos todos boiando, sem entender qual era o problema. O professor explicou então que “frade” e “frei” (do latim “frater” = irmão) eram a mesma coisa, porém havia um porém: “frei” é uma forma abreviada de “frade” e só se usa junto do nome do religioso – frei Henrique, frei Jacinto. Ipso facto, a resposta correta e completa do menino teria que ser assim: “Os fundadores da cidade foram dois FRADES capuchinhos – FREI Ângelo e FREI Vitório”. Em Maringá diremos (certinho) que o nosso arcebispo, Dom FREI Severino, é um FRADE franciscano”.

     Noutra ocasião, uma aluna perguntou se poderia sair um pouco mais cedo, porque teria que ir a um ensaio extra do “coral”. O professor Expedito aproveitou e deu mais um dos seus pitacos: “Ao ensaio do coral você não vai; só permito se for ao ensaio do coro”. E lá veio a explicação. “Coro” é substantivo; “coral” é adjetivo. “Coro” é o nome do grupo de vocalistas; o que o grupo canta é que se chama “canto coral”, ou seja, “canto do coro”. Hoje seria difícil voltar a chamar de “coro” o que quase todos passaram a chamar de “coral”. Mas fica a dica.

     Como ex-seminarista, o bom e sábio mestre gostava especialmente de ensinar o significado de palavras relacionadas com religião. Vou dar alguns exemplos que no momento me ocorrem.

     Aleluia – palavra de origem hebraica: “halleluyah”. “Hallelu” = louvar + “Yah” = forma abreviada de Javé. Alelu-ia significa então “louvai a Javé”, “louvai a Deus”.   

     Paróquia – do grego “paroikia” (para = ao lado + oikia = casa). Ao pé da letra, paróquia é o mesmo que vizinhança, conjunto de casas vizinhas, comunidade. No sentido eclesial, paróquia é um território confiado a um pároco (antigamente mais conhecido como vigário). “Vigário”, em latim “vicarius”, de “vicis agere” = aquele que faz as vezes de outro, ou que age em nome de outro). No caso, é o padre que, na paróquia, zela pelos fiéis em nome do bispo.   

     Bispo – do grego “epíscopos”  > epíscopo > piscopo > bispo). Epi = posição superior + scopos = ver). Supervisor. Lembra o antigo pastor de ovelhas, que se colocava geralmente no alto de uma colina para cuidar do rebanho. O bispo é o responsável pelo governo de uma diocese. O bispo da diocese principal de uma província eclesiástica (como é o caso de Maringá) tem o título de arcebispo (arce, arqui = principal) e sua diocese tem o nome de arquidiocese. 

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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