Dia desses bati um papo com o amigo Luiz Carlos Altoé, nosso genial Kaltoé, misto de cartunista e filósofo. Conversa vai, conversa vem, começamos a matutar sobre o que seria de fato amizade. De logo lá estava eu parafraseando o poema do compositor argentino Atahualpa Yupanqui, imortalizado na voz de Mercedes Sosa: “Yo tengo tantos amigos (hermanos), que no los puedo contar…”
Por falar nisso, quantos amigos você tem? Não precisa explicar. Poucos ou muitos, ninguém sabe quantos tem. Você não sabe, eu também não sei, tampouco o sabe o Kaltoé.
Até porque é deveras complicado definir amigo (… palavrinha hum-hum essa tal de “deveras”, mas deixa pra lá). Na verdade, há uma escala: amigo – colega – vizinho – parceiro – conhecido.
Amigo pra valer é aquele com quem você pode contar em tempo integral. Pode ser parente ou não. É alguém a quem você recorre em qualquer circunstância, alguém com quem você partilha suas confidências, alguém que você recebe em sua casa como se de casa fosse, alguém cuja companhia lhe dá sempre o maior prazer.
Colega é um companheiro de escola, de trabalho, de clube, às vezes uma pessoa generosa e leal, outras vezes um competidor ou rival.
Vizinho é alguém que mora perto de você e com quem você frequentemente encontra, variando, porém, o grau de intimidade, desde o que se torna parte da sua família até aquele que apenas lhe dá bom-dia.
Parceiro é aquele com quem você pratica algum tipo de esporte ou com quem você habitualmente faz negócios, também variando o nível de intimidade e confiança. Conhecido é alguém que sabe da sua existência, sabe o seu nome, costuma vê-lo de vez em quando e ocasionalmente até conversa com você.
Os que chegamos a Maringá no começo da cidade tivemos uma experiência muito forte do que significa amizade. Viemos todos de lugares diferentes, em maioria sozinhos, alguns só o casal ou trazendo filhos pequenos. Era uma aldeia formada por desconhecidos. Se alguém tinha uma emergência, era um problemão. Pedir ajuda a quem?… Há histórias muito bonitas na memória de nossa boa gente.
Numa fila para tomar vacina ouvi um pioneiro contar que poucas semanas após sua chegada à cidade, no início dos anos 1950, ele e sua então jovem esposa passaram por uma situação bastante difícil. Estavam fazendo um conserto no telhado e caíram juntos no chão. Sem condição de um ajudar o outro, ele gritou pedindo socorro. Alguns vizinhos vieram correndo, fizeram o que podia ser feito na hora, mas os ferimentos eram graves e havia necessidade de atendimento médico.
“Vamos levar para a Santa Casa”, disse alguém. Mas como?… Ninguém ali tinha carro nem telefone para chamar um táxi ou ambulância. Apareceu então outro vizinho, que morava um quarteirão adiante. Ele estava numa carrocinha puxada por um cavalo e se ofereceu para conduzir os acidentados. Ficou no hospital com eles até que fossem feitos os curativos e pudessem voltar para casa.
Embora morassem próximos, foi a primeira vez que o jovem casal e o dono da carrocinha conversaram. Depois desse episódio se tornaram amigos tão íntimos que em pouco tempo se fizeram compadres. Aliás a vizinhança toda estreitou amizade e logo virou uma comunidade.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução