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Doutor Hélenton

O primeiro texto jornalístico que li em Maringá (1955) foi um artigo assinado pelo Dr. Hélenton Borba Cortes, no “O Jornal”, matutino pioneiro dirigido pelo saudoso Ivens Lagoano Pacheco. Dias após fui à redação conhecer o pessoal e lá encontrei, dedilhando uma barulhenta Remington Rand, um homem alto, de óculos, meio sisudo. Porém tão concentrado ele estava, que nem olhou para mim. Apenas me apontou a sala do diretor, o bom Ivens, que me recebeu cordialmente. Nisso entrou na sala uma senhora trazendo uma bandeja com xícaras de café. Entrou atrás, para servir-se, aquele homem alto de óculos. Era ele, o Dr. Hélenton, com quem então tive a oportunidade de pela primeira vez bater um animado papo.

     Médico nascido em Curitiba (1920-1988), o Dr. Hélenton Borba Cortes chegou a Maringá no dia 7 de abril de 1951, já casado com Dona Giorgina. Veio a serviço do governo do estado, com a incumbência de instalar aqui um Posto de Higiene, mais tarde transformado em Centro de Saúde Pública. Nas horas vagas, dedicava-se à sua paixão literária, tornando-se um dos redatores mais lidos do “O Jornal”, ao lado de Altino Borba, Ricarte de Freitas e outros.

     Homem de temperamento inquieto, integrou-se de imediato na vida da jovem comunidade. Foi um dos fundadores da Maçonaria, do Rotary Club e do Clube do Médico, atuando também como professor no Ginásio Maringá e, mais tarde, na Faculdade de Direito (Medicina Legal). Atendia também os funcionários da Rede Ferroviária, além de manter um consultório na esquina da Avenida Brasil com Herval, em cima da antiga Farmácia São Lucas. Com toda essa atividade, conquistou grande popularidade, acabando por entrar na política. Foi um dos vereadores mais vibrantes da cidade, um dos poucos que tiveram coragem bastante para, em várias ocasiões, peitar o prefeito João Paulino.

      Exerceu ainda, durante muitos anos, uma função deveras importante – a de médico-legista, chefe do Instituto de Medicina Legal de Maringá. Um dia comentei com ele que raras pessoas teriam condição de realizar esse trabalho. O Dr. Hélenton respondeu: “Faço isso com máximo respeito e honra. O corpo humano é a obra-prima da natureza. Cada órgão é como um instrumento de uma orquestra perfeita. Enquanto faço um exame, fico pensando na maravilha que é o mistério da vida”. Não perguntei mais nada, porém até hoje me lembro do olhar dele ao descrever o encantamento que sentia ao falar da sua especialidade.

     Na verdade, era um poeta o Dr. Hélenton. Seus ex-alunos referem-se a ele com grande saudade e comovente ternura. Seus ex-pacientes guardam dele a imagem de um doutor extremamente responsável e generoso.

     Tive a alegria de conviver com o Dr. Hélenton durante uns bons anos nas reuniões de Rotary. Foi um rotariano superatuante, que levava realmente a sério o lema “Dar de si antes de pensar em si”. Além de tudo, ótimo orador. Um amigo inesquecível.

A. A. de Assis
Foto – Maringá histórica

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