Um dos sociólogos que está na minha lista de leituras preferidas é o polonês Zygmunt Bauman. Já estudei várias de suas obras e elas fazem parte de conteúdos riquíssimos que trabalho com meus alunos na faculdade.
Autor da ideia de que vivemos numa sociedade líquido-moderna, Bauman também afirma que os amores se tornaram líquidos.
O que isso significa? Primeiro, uma sociedade líquido-moderna é aquela que tudo é fluído, não existe nada estável, a segurança e as certezas se perderam. Noutras palavras, significa que o jeito que se vive hoje já não tem mais nada a ver com o que viviam nossos pais. Significa que ninguém mais tem garantia alguma que o certo de hoje ainda será certo amanhã. E, nomeie diz respeito ao amor e aos relacionamentos, a lógica se reproduz: nenhuma promessa de amor eterno é confiável. O eterno se tornou “eterno enquanto dure” ou eterno até que apareça alguém aparentemente mais interessante.
As pessoas entram hoje numa relação para saírem dela em algumas semanas ou meses. Um relacionamento duradouro, do tipo “até que a morte nos separe”, parece estar fora de moda. As se apaixonam para se desapaixonarem diante dos primeiros desconfortos.
Bauman não defende esse modo de vida liquido-moderno. O sociólogo, como leitor do mundo em que vivemos, observou o comportamento da sociedade e chegou a essas conclusões relatando-as em suas obras.
Para ele, os prejuízos desse modo de vida são evidentes. As pessoas estão insatisfeitas, infelizes e isso pode ser observado nos consultórios de psicólogos, psiquiatras, também nos gabinetes pastorais, de padres e pessoas que se tornaram especialistas em aconselhamento.
Bauman cita que os relacionamentos estão hoje entre os principais motores da indústria do aconselhamento.
Por outro lado, a literatura, principalmente midiática, ensina um tipo de “relacionamento de bolso”, que se pode dispor quando necessário e depois tornar a guardar. Os textos de comportamentos em sites, blogs e também os modelos de relacionamento em séries, novelas, filmes sugerem que relacionamento bom é aquele que atende os desejos, que é conveniente… Se deixa de ser conveniente, descarta-se.
Com isso, pouca gente entra numa relação comprometido em fazer dar certo. A pessoa começa se protegendo de futuras mágoas, decepções e, com isso, o outro é candidato a tornar-se um adversário a qualquer momento. A parceria não existe. Não existe pacto por fazer dar certo. Cada um olha a relação a partir de seus próprios interesses.
Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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