Hoje quero falar sobre algo muito sério, mas bastante negligenciado: não existe aprendizado sem desconforto. É isso mesmo: o processo de aprendizagem causa desconforto. Se a pessoa não sente nenhum desconforto diante das coisas que estaria aprendendo, pode ter certeza, não está havendo aprendizado efetivo.
É uma ilusão acreditar que aprender é prazeroso. O processo de aprendizagem é doloroso, nunca prazeroso. Prazer obtemos com o resultado do que foi aprendido. Afinal, após o esforço, a recompensa é alegradora. E geralmente nos enche de orgulho.
Embora minha formação inicial seja jornalismo, desde a minha pós graduação em psicopedagogia até meu doutorado em educação, tenho me dedicado a entender o universo do aprendizado. E, mais recentemente, tenho procurado compreender o que acontece com nosso cérebro, como o cérebro funciona e reage diante de informações e as sistematiza em conhecimentos.
E este é um tema que me interessa porque tudo passa por mecanismos de aprendizagem. O nosso desenvolvimento é potencializado por novos conhecimentos. E a gente pode aprender todos os dias. Não só na escola.
A vida pra ser bem vivida necessita de aprendizado constante. Aprendemos sobre nós, sobre os relacionamentos, sobre a sociedade, sobre o funcionamento do mundo físico, mental e até espiritual.
Esse constante aprendizado gera crescimento. Expande a nossa mente.
Entretanto, o aprendizado real só ocorre quando gera desconforto. Aquilo que não causa desconforto, não nos ensina coisas novas, apenas serve de reforço para crenças já existentes.
A parte do cérebro que processa novos conhecimentos só funciona com muito esforço. Essa parte do cérebro demanda muita energia. Por isso, cansa, e nos desgasta.
Como requer muita energia, frequentemente, as pessoas desistem diante do que é novo. Ou, como justificativa, dizem que é chato, que é maçante… E tem ainda quem estabelece uma relação preconceituosa diante de um novo saber.
Para aprender, é preciso concentrar-se e, deliberadamente, desejar assimilar as informações que até então são desconhecidas.
É fato que, quando algo nos instiga bastante, desperta a nossa curiosidade, existe uma motivação que nos impulsiona e garante a energia necessária para o aprendizado. Entretanto, frequentemente, não é isso que acontece. A maioria das coisas que desconhecemos, inicialmente, não nos são atrativas. Por exemplo, se você já tem mais de 40 anos, talvez não goste tanto das tecnologias digitais. Logo, aprender a usar todas as funcionalidades de um celular pode ser bastante difícil. Ainda assim, se abrir mão de aprender a lidar com essas ferramentas, suas habilidades de comunicação estarão cada vez mais comprometidas.
Mas, preste atenção, essa dificuldade não tem a ver com sua idade, não tem a ver com sua capacidade de aprender. A dificuldade é resultado do desconforto natural que todos nós enfrentamos diante de algo novo. Só é desconfortável justamente por isso: porque ainda desconhecemos, porque é novo para nós. De certo modo, é como tentar trilhar uma mata que nunca foi desbravada; é preciso criar novos trilhos. No cérebro, o processo não é muito diferente.
Alem disso, a parte do cérebro que está sempre ativa e que gosta de trabalhar é mais intuitiva, mais emocional, e é também mais simplificadora, mais superficial. E é por isso que se você diz que está aprendendo sempre, mas não está sofrendo neste processo de aprendizagem, na prática, você não está aprendendo nada. É só a parte mais intuitiva do seu cérebro assimilando coisas que ele já gosta, realimentando as crenças já existentes.
Enfim, não sei se consegui me fazer claro. O que quero que você guarde aí na sua memória é isso aqui: se você diz que é uma pessoa que gosta de aprender, saiba que só está realmente aprendendo quando está se sentimento profundamente desconfortável neste processo. Aprender cansa, desgasta, demanda energia. Porém, o saber é como uma luz: ilumina os nossos caminhos.
E aí, você realmente tem feito uma caminhada diária de aprendizado?
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Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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