Hoje acordei pensando num homem bom, o bom Ori – nas horas solenes Monsenhor Orivaldo Robles (1941–2019). Baixinho às vezes zangado, porém doce como um menino da roça, como ele, aliás, curtia dizer que era, criado no meio de uns cafezais dos quais seu pai cuidava.
Dizem que quando a gente gosta de uma pessoa acaba gostando de tudo o que essa pessoa faz ou diz. Isso tem muito de verdadeiro. Mas no caso do bom Ori não sei de quem e do que eu gostava mais. Gostava muito do amigo querido, com quem convivi por mais de meio século; gostava muito do padre exemplar e sábio, de quem recebi tantas lições de vida; gostava muito do exímio cronista, dos seus ótimos textos, e do modo ao mesmo tempo forte, elegante, correto e descontraído como os escrevia.
Conheci-o desde quando ele era seminarista, mocinho ainda. De vez em quando ia à redação da “Folha do Norte” levar os artigos de Dom Jaime e eu aproveitava para roubar dele alguns instantes de gostoso bate-papo. Era quase impossível mantê-lo sentado e quieto durante mais de dois minutos, porém lhe servia um cafezinho, puxava conversa e o segurava lá por um bom tempo. Cada visita sua era uma aula.
Mas quem foi, afinal de contas, Orivaldo Robles?
Como foi dito acima, ele costumava apresentar-se como “um assustado jacuzinho da roça” que com 11 anos entrou para o seminário menor em São José do Rio Preto, 5 anos depois mudou com a família para Alto Paraná e continuou os estudos em Curitiba, de onde saiu após mais 9 anos para ser ordenado sacerdote em Maringá por Dom Jaime Luiz Coelho.
Tive a graça de estar lá, na velha Catedral de madeira, e o vi entregar-se integralmente a Deus, ao lado do colega/amigo/irmão Toninho – o igualmente superquerido Monsenhor Antônio de Pádua Almeida. Dois meninos. Sempre juntos, inquietos, inteligência viva e rápida.
Ori, um homem lindamente transparente. Quando tinha vontade de rir, ele ria de dobrar; quando tinha vontade de chorar, chorava sem a menor cerimônia; quando era preciso brigar, brigava sem medo de nada; se percebia que cometera um erro ou alguma ocasional indelicadeza, de pronto pedia perdão, com humildade e honestidade, na maioria das vezes em público. Um homem que sentia, pensava e dizia sem rodeios o quanto sentisse e pensasse.
Era assim o rapazinho que conheci ainda seminarista, cheio de esperança e entusiasmo, continuamente ativo e aceso, às vezes meio bravo, às vezes lírico, sempre generoso, simplão e alegre. Um amigo amigão, um padre extremamente autêntico, um escritor de nascença, cujos preciosos textos a gente há de ler, reler e muitas vezes ler de novo, sem vontade de parar.
Ele deixou muita sabedoria escrita. Destaco um livro de crônicas – “Celeiro desprovido”, e sua obra-prima – “A igreja que brotou da mata”, o mais completo documento sobre a história da arquidiocese de Maringá. Um abraço grande, Ori. Mande uma bênção aí do céu pra gente.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução
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