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Status puxa status

Um ilustre da cidade, tentando explicar na roda de amigos sua preocupação constante em bem-vestir-se, bem-morar e bem-rodar, quase chega a convencer os demais sobre as razões de ser ele assim. Não é que encontre prazer na esnobação, mas se sente forçado a isso porque o contexto profissional exige.

          Poderia levar uma vida mais simples, utilizar automóvel menor e menos bebedor de combustível, morar numa casa que não exigisse tantos cuidados e tantos empregados, vestir roupas comuns, frequentar menos as reuniões sociais e políticas.

          Isso tem hora que enche, diz ele. Mas não consegue viver modestamente. Sua posição impõe esmeros especiais.

          Dá para entender que posar de bacana é imperativo de certos ramos de negócio. Faz parte do ofício. Quanto mais esnoba, mais impressiona. Quanto mais impressiona, mais portas consegue abrir. Quanto mais portas consegue abrir, mais dinheiro ganha.

          Não é culpa dele, insiste. A culpa é do contexto. Seu ramo baseia-se no “ter”. E para “ter mais” é preciso ostentar, fazer de conta que já tem mais do que o necessário.

          Se ele estacionar em frente ao escritório de um cliente caixa alta num carrinho classe média, talvez nem seja recebido. Chegando num reluzente carrão, vestindo terno de grife, com gravata, colete e algum escudinho na lapela, e além do mais com o rosto vistoso, perfumado, o grande cliente vem pessoalmente abrir-lhe a porta, sente-se homenageado com a sua presença, e fecha o negócio na hora. Coisas da vida.         

           Aliás, há muita empresa graúda que paga adicionais a seus executivos para que eles possam frequentar lugares chiques, pagar almoços para clientes que possam render bons negócios, hospedar-se em hotéis caros onde se costuma encontrar gente poderosa; enfim dar o mais que possa alguma amostra de ascensão social e econômica. 

          Status puxa status. O mundo é assim, o homem é assim, e não será ele quem vai mudar coisa nenhuma. Seu papel é multiplicar lucros, não discutir costumes.

          Se é preciso rodar num carangão invocado, ele roda. Se é preciso vestir ternos de nobre aparência, ele veste. Para ele não se trata de vaidade, trata-se de investimento.

          Os amigos contra-argumentam sugerindo que tudo isso é uma bobagem. Mas o distinto não está a fim de dar corda a digressões filosóficas. Realista por fora e por dentro, lembra que “ostentação é ferramenta de trabalho”, especialmente para quem lida com clientela abonada. Optar pela simplicidade seria arriscar-se a perder excelentes oportunidades.

          Mas como é domingo, e o papo é num botequim, o “esnobador por dever de ofício” esquece as etiquetas, deixa de lado o costumeiro uísque, e manda vir uma cachacinha das boas. Com pastel de carne seca

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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