No acelerado cenário da vida moderna, a promessa de otimizar o tempo, cumprindo múltiplas tarefas simultaneamente, tem forte apelo. A imagem do profissional moderno, constantemente interagindo com várias ferramentas tecnológicas e navegando por uma avalanche de demandas diárias, tornou-se o padrão do que muitos enxergam como destreza profissional.
Muita gente inclusive defende que as pessoas treinem suas habilidades para cumprir várias tarefas ao mesmo tempo.
Com smartphones vibrando com notificações, e-mails clamando por atenção e múltiplas janelas de aplicativos abertas, a capacidade de gerenciar tudo isso, a princípio, é vista como um trunfo.
Em um mundo frenético, não acompanhar este ritmo é interpretado como ineficiência.
Mas há uma mentira nesse discurso.
Essa visão idealizada de multitarefa contrasta com uma realidade mais complexa. Ao tentarmos dividir nossa atenção entre diferentes tarefas, nosso cérebro não duplica a atenção; nosso cérebro fragmenta a atenção.
Cada mudança de foco consome energia cerebral. Isso ocorre porque o cérebro precisa constantemente reorientar-se, ajustar-se e adaptar-se a uma nova tarefa ou informação. Esse processo contínuo de troca e realinhamento é exaustivo. O resultado é uma fadiga mental que, ao longo do tempo, pode levar à exaustão.
Além disso, essa constante mudança de foco eleva os níveis de estresse. Nosso corpo reage ao estresse liberando hormônios como o cortisol, que em excesso pode ter efeitos prejudiciais à saúde. E, ironicamente, em vez de aumentar nossa produtividade, esse estado de sobrecarga mental frequentemente resulta em uma redução da produtividade geral. Cometemos mais erros, esquecemos detalhes e perdemos a capacidade de pensar de maneira clara e criativa.
Quando você faz várias coisas, nenhuma delas têm a sua atenção plena.
O que a gente chama de multitarefa, na prática, se trata de um processo de alternância de tarefas. Por mais que pareça que estamos fazendo várias coisas ao mesmo tempo, na prática, o cérebro está alternando rapidamente entre uma tarefa e outra.
O córtex pré-frontal, a área do cérebro associada à tomada de decisões, planejamento e comportamento social, desempenha um papel fundamental nesse processo.
Ao dividir a atenção entre múltiplas tarefas, esta região do cérebro é sobrecarregada, tentando gerenciar todas as atividades simultaneamente. Isso pode levar a uma sobrecarga cognitiva; o córtex pré-frontal tem capacidade limitada para processar informações.
Um estudo publicado pela Universidade de Stanford revelou que pessoas que se consideravam multitarefas eram, na verdade, menos eficientes em alternar entre tarefas do que aquelas que se concentravam em uma tarefa de cada vez.
O estudo sugere que a multitarefa pode, na verdade, prejudicar a capacidade do cérebro de filtrar informações irrelevantes, tornando mais difícil focar e concluir tarefas.
Quando uma pessoa tenta fazer várias coisas ao mesmo tempo, no cérebro dela, há uma alternância constante de foco entre as tarefas. Esta constante mudança de foco cria “pontos de interrupção”. Assim, cada vez que uma pessoa interrompe uma tarefa para passar para outra, quando retorna à tarefa original, ela leva um tempo adicional para “entrar” novamente na atividade que vinha desempenhando. Portanto, ao invés de economizar tempo (ou ganhar tempo), frequentemente resulta em mais tempo gasto no geral.
A ciência nos mostra que, ao dividir a atenção, frequentemente comprometemos a qualidade e eficácia com que realizamos cada tarefa individualmente.
Portanto, a mensagem é clara: quer ser eficiente, fazer as coisas direito? Faça uma coisa de cada vez. Isso vale inclusive para aquele momento de responder mensagens no whatsapp. Pode ter certeza que vai reduzir inclusive o risco de mal entendidos e mensagens enviadas de forma errada para outras pessoas.
Dar foco e atenção total a uma tarefa de cada vez não apenas melhora a qualidade do trabalho, mas, a longo prazo, pode também ser mais eficiente e ter a mente mais descansada.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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