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Memórias Negativas: Por que o passado nos persegue?

Por que algumas memórias, especialmente as dolorosas, continuamente se infiltram em nossos pensamentos, mesmo quando desejamos esquecê-las? Essa indagação, enviada por uma leitora, ressoa entre muitos de nós.
Eu mesmo, confesso, gostaria de me livrar de inúmeras memórias que me machucam. Mas não dá. Vez ou outra, essas memórias retornam e me deixam triste – e até com raiva.
Costumo dizer que “o passado nos persegue”. Por isso, falo tanto sobre a importância de buscarmos a sabedoria a fim de fazermos boas escolhas. Porque aí, pelo menos no que diz respeito ao que controlamos, podemos deixar de produzir fatos negativos que vão nos atormentar ao longo da vida. 

Mas este é um outro assunto.
A pergunta de hoje é: por que a gente vive voltando ao passado, às memórias negativas? Será que existem explicações para isso? Sim, existem! Existem várias explicações psicológicas e neurológicas para esse fenômeno:
Viés de Negatividade: Segundo alguns estudiosos, prestar atenção a estímulos negativos ou ameaçadores tinha valor de sobrevivência para nossos ancestrais. Aqueles que eram mais sintonizados com perigos potenciais tinham muito mais chances de sobreviver. Devido a esse “viés de negatividade”, o cérebro humano tende a dar mais peso e lembrar-se mais facilmente de eventos negativos do que positivos.
Eu já disse aqui inclusive que, no cérebro, o mal sempre vence. Tudo que é negativo ganha maior atenção de nosso cérebro. Estudos têm mostrado que emoções negativas geralmente exigem mais atenção e são mais prováveis de serem lembradas do que emoções neutras ou positivas.
Processamento Emocional: Muitas vezes, reviver memórias dolorosas é uma tentativa do cérebro de processar e entender o evento. Esse é um mecanismo natural, mas quando a pessoa fica presa nesse ciclo e não consegue processar a memória, ela pode se tornar repetitiva e prejudicial.
Necessidade de Resolução e Fechamento: (Está diretamente relacionada à explicação anterior). Às vezes, as pessoas revisitam memórias dolorosas porque estão buscando uma forma de resolução ou fechamento. Eles podem estar tentando entender por que algo aconteceu ou como poderiam ter agido de maneira diferente.
Reforço da Identidade: Em alguns casos, as pessoas podem definir-se, mesmo que inconscientemente, com base em traumas ou eventos negativos passados. Isso pode criar uma ligação mais profunda com essas memórias. Ou seja, as histórias negativas, os traumas, já se tornaram parte da identidade da pessoa.
Comportamentos Aprendidos: Se alguém cresceu em um ambiente onde o foco estava constantemente nos aspectos negativos ou se eles foram reforçados por prestar atenção ao negativo (ou seja, se o ambiente era favorável a um retorno constante às coisas ruins que já foram vividas por indivíduos de uma família), a pessoa pode ter aprendido a revisitar essas memórias mais frequentemente.
Do ponto de vista neurológico, cada vez que uma memória é acessada, ela é reconsolidada. Se uma pessoa frequentemente revisita uma memória negativa, especialmente em um estado emocional elevado (num momento de forte emoção), essa memória pode ser reforçada e consolidada de maneira mais forte no cérebro.
Portanto, se alguém está constantemente sendo puxado para memórias negativas e isso está afetando seu bem-estar, é importante usar técnicas de dúvida, questionamento das memórias para produzir um melhor estado de ânimo. Também pode ser benéfico procurar terapia ou aconselhamento para desenvolver estratégias de enfrentamento e processar essas memórias de maneira saudável.–
Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras |  Doutor em Educação

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