Você já se perguntou se há um limite para o otimismo? Desde os estudos de Martin Seligman que inauguraram um novo campo na Psicologia, a Psicologia Positiva, muitos adotaram o discurso otimista e passaram a promovê-lo de uma maneira pouco produtiva – até mesmo distorcendo os conceitos básicos desta disciplina.
A ciência confirma a importância de ser positivo. No entanto, a positividade se torna tóxica quando a busca incessante por positividade nega a validade das emoções negativas e impõe uma falsa alegria, ignorando os desafios reais da vida.
Como costumo repetir, “viver é enfrentar adversidades”. E as adversidades, por vezes, nos consomem, nos entristecem.
Atualmente, a sociedade tem sido inundada com mensagens do tipo “você controla a sua mente”, “você pode conseguir qualquer coisa”, “a felicidade depende apenas de você”… Essas ideias têm sido amplamente difundidas, gerando uma imagem pouco realista sobre a vida.
Hoje, quem sofre, geralmente escuta pessoas dizendo: “você não está se esforçando o suficiente”, “você tem que acreditar em si mesmo” ou “ânimo, pessoas fortes sempre se levantam”…
Essas afirmações, por mais bem intencionadas que sejam, colocam as pessoas em uma situação difícil: serem rotuladas como fracas. Esse tipo de abordagem insensível sugere que a felicidade é fácil de alcançar, e se alguém não está sempre bem, é porque está fazendo algo errado.
Além disso, a ideia de que “toda a sua felicidade depende de você” também implica que todo o seu sofrimento é culpa sua. A lógica é que se alguém está sofrendo, é porque falhou em alcançar a felicidade.
A positividade tóxica ignora o impacto do contexto individual e das circunstâncias na vida das pessoas. Nem todos têm acesso aos mesmos recursos e oportunidades, e nem todos os objetivos são alcançáveis para todos.
É crucial reconhecer que a vida está repleta de obstáculos e que nem sempre é possível alcançar tudo o que desejamos, mesmo com esforço e otimismo. Vários estudos já mostraram que a negação das emoções negativas pode levar a problemas de saúde mental.
A pressão social para ocultar problemas e adotar uma mentalidade positiva a qualquer custo pode levar à falta de empatia e compreensão. A positividade tóxica pode levar à negação do sofrimento legítimo, pressionando as pessoas a esconderem seus problemas e a fingirem estar sempre felizes.
O discurso de positividade cria um ambiente fictício e as pessoas não se sentem livres para revelarem suas dores. Noutras palavras, as pessoas perderam o direito de chorar. É fundamental permitir que as pessoas expressem suas emoções verdadeiras.
Estamos cada vez menos tolerantes ao sofrimento do outro. Quando alguém parece sofrer, logo estamos oferecendo uma forma de anestesiar a dor – sofrer parece inaceitável e ninguém parece ter paciência para oferecer um ombro amigo.
É essencial compreender que as emoções negativas, como tristeza, raiva e medo, desempenham um papel importante em nossa experiência humana. Suprimir essas emoções pode ter consequências negativas para a saúde mental e emocional. Reconhecer, aceitar e lidar com essas emoções é fundamental para o crescimento pessoal e o bem-estar psicológico.
Em conclusão, devemos distinguir entre positividade tóxica e uma abordagem saudável de otimismo. O otimismo realista reconhece a existência de desafios e adversidades, mas mantém a esperança e a crença em nossa capacidade de lidar com os problemas, usando os recursos disponíveis. Essa postura valoriza o equilíbrio entre o reconhecimento das emoções negativas e a busca por soluções construtivas.
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Ronaldo Nezo
Comunicador Social
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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