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A cada dois dias é registrado boletim de ocorrência por crime sexual na cidade

71 boletins de ocorrência relacionados a crimes sexuais contra crianças e adolescentes foram registrados em pouco mais de quatro meses deste ano. Os dados foram concedidos pela Delegacia Especializada em Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Nucria).

Estes e outros dados serão discutidos hoje na OAB Maringá, das 13h30 às 20h30, na programação do Maio Laranja. O evento é organizado pela Subseção da OAB, por meio de diversas comissões temáticas, e pelo Movimento Infância e Adolescência (MIA). A ação irá acontecer no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil no Brasil.

O primeiro evento do dia será uma roda de conversa a respeito do combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes. Na sequência, haverá uma palestra sobre normas da escuta especializada para pessoas portadoras de deficiência (PCDs).

Dessa forma, nos eventos muitas autoridades vão tratar sobre os assuntos abordados: Karen Friedrich Nascimento, delegada do Nucria; Célia Regina Cortelete, psicóloga do Nucria; Lia Chicoski, conselheira tutelar; Ailton José Moreli, doutor em História Econômica; Amália Regina Donegá, secretária da Criança e do Adolescente de Maringá; Mariane Arns, médica pediatra; Jaqueline de Moura, chefe adjunta da Polícia Científica; Raquel Barros de Souza, diretora do CAPS Infantojuvenil de Maringá; Maria Gabriela Brandino, diretora do CREAS II Maringá; Ednéia José Martins Zaniani, doutora em Psicologia e Sociedade; Celso Alberti Filho, conselheiro tutelar em Colorado; e Cristiane Tazinafo, presidente do MIA.

O evento é preparado pelo Movimento da Infância e Adolescência (MIA), em parceria com as comissões da OAB Maringá: Comissão de Direito da Criança e do Adolescente, Comissão de Direito das Família e Sucessões, Comissão OAB nas Escolas, Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero, Comissão de Direito Internacional, Comissão de Justiça Restaurativa, Comissão de Ação Social, Comissão da Pessoa com Deficiência, Comissão de Direitos Humanos e CEVIGE.

SINAIS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Quando iniciou o acompanhamento psicológico após ser vítima de violência sexual, Fernanda (nome fictício), de 14 anos, tinha perdido a vontade de viver.

A adolescente já não estudava e nem tinha planos, como fazer faculdade ou trabalhar. Depois de aproximadamente três anos frequentando a APMIF São Rafael, que é uma das únicas entidades no Paraná que presta atendimento psicológico para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual de modo gratuito e constante, o brilho no olhar voltou ao semblante da garota, que atualmente tem 17 anos. Em um relato de áudio, gravado com a autorização dela, a jovem relatou como se sente:

“Conversar sobre o assunto me ajudou muito, muito mesmo. Hoje eu tenho paixão em viver, voltei a estudar, estou trabalhando, indo na academia e ainda quero fazer faculdade.”

O atendimento que Fernanda recebeu foi concedido pelo ‘Projeto Fazendo a Diferença’, que corresponde no atendimento psicológico de crianças vítimas de violência sexual e familiares responsáveis. Edinêa Juliana Maldonado é psicóloga e uma das idealizadoras do projeto que desde 2016 já fez mais de 5.500 atendimentos especializados a mais de 300 vítimas de violência sexual.

Com isso, em referência ao dia 18 de maio, a profissional faz um alerta a respeito dos sinais que apontam que crianças e adolescentes podem estar vivendo momentos de violência sexual, da mesma maneira que aconteceu com Fernanda.

Tanto nas crianças como nos adolescentes, os sinais surgem devido mudanças no comportamento. Nos menores, é mais habitual situações como falta de controle das fezes e urina (quando já havia adquirido essa habilidade), falta ou excesso de apetite, dificuldades para dormir ou pesadelos, desinteresse pela escola, mudança no modo de se comunicar e se relacionar, medo e tristeza sem causas evidentes, choro ou apatia. “Já nos adolescentes, é mais comum casos de agressividade ou apatia, uso de álcool ou drogas, automutilação, fugir ou evitar ficar em casa para evitar situações de abuso, etc”, diz a psicóloga Edinêa Juliana Maldonado.

Em vista disso, para prestar a ajuda apropriada em caso de necessidade, é essencial que os adultos estejam atentos aos sinais que as vítimas podem apresentar. “É preciso que os adultos, sejam eles pais, professores, familiares ou responsáveis, se questionem sobre as mudanças no comportamento das crianças e adolescentes. Deixar escapar fezes ou urina, por exemplo, pode indicar que a situação vivenciada é tão desesperadora que aquilo precisa sair por algum lugar e, se não sai por meio de palavras, vai sair de outra forma. Então, o caminho é esse: observar o que pode indicar aquilo que não é dito.”

Maynara Guapo
Foto – Reprodução

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