No jornal saiu “smooking”. O pessoal que sabe inglês ligou dizendo que o certo é “smoking” (com um “o” somente). Bidu Fineza não teria cometido a gafe: escreveria simplesmente “ismôquim”.
Maneiro nos gestos, macio nos passos, jeitoso na fala, mal completou idade se mandou Bidu Fineza de mala e sonhos para o Rio de Janeiro, no início aprendiz de garçom, depois recepcionista num hotel de luxo, no pico da carreira mordomo na casa de uns americanos.
Razoavelmente bem-falante em português, no contato diário com os patrões conseguiu aprender inglês de ouvido. Só de ispique, uraite not, explicava.
Deu-se que alguns anos depois, já com suficiente mônei para abrir negócio próprio, decidiu voltar para a terrinha onde uós borne e foi criado. Escreveu ao pai dando a notícia em finíssimo portínglis. Duvido que até hoje o orgulhoso pai tenha conseguido entender a tal missiva. Achou, porém, tão véri impórtant o documento, que saiu a mostrar pra Lindeza inteira, resultando cair nas mãos do irreverente jornalista Subieta. No domingo seguinte saiu em primeira página, no seu brioso hebdomadário, a estrepitosa manchete: ‘BIDU FINEZA GOUBEQUE TU LINDEZA”.
Para ter ideia, leia um trecho da bem-traçada léter:
“Díar fáter: aime veruel, bate com uma bigue saudade ofiú. Dúrin dis laste taimes ai uorque pra caramba, bate valeu a pena. Tudei aime um cara abonado e viajado. Com mai patrão turnei arounde Europa e Esteites. Ai nou Ínglande, Ítali, Gérrmani… Ai nou Nuiorque, Roliúde, Uóxintão, Maiame… Ganhando verimate e gastando fiú (bicose ai réve cama, comida e dresse lavada), botei mai mônei pra render no banco. Tudei ai réve uma gude situêichão, saúde oquei, norrau em fidalguias e pretendo goubeque tu Lindeza inórder tu ôpen um bôtiful restaurant.”
Baita festa quando o futuro grande empresário desembarcou do vagão de primeira classe, terno branco, sapatos brancos, chapéu rimando com a cor da indumentária, amigos e autoridades na estação, foguetes, discursos, tudo o mais a que tinha jus o filho ilustre que agora rico goubecava pra investir seu mônei no torrão natal.
Outra festa na inauguração do Bidu’s Restaurant, specialaized in river fishes. Lugar chique pacas, varandas de frente para o rio, chef importado da capital, cordialidade impecável dificilmente encontrada mesmo nas casas mais starizadas, frequentadores vindos de todas as cidades vizinhas, até de outros estados.
Bidu Fineza, o homem forte de Lindeza. Que entretanto botou tudo a perder no dia em que inventou de se eleger prefeito. Não ganhou, mas, ocupado com a campanha, deixou de offissaide o restaurante, que aos poucos foi perdendo o charme e a clientela.
The end: outra vez desabastado, Bidu Fineza goubeque tu Rio de Janeiro pra começar tudo de novo.
A. A. de Assis
Foto – Reprodução