Quando criança, no Bairro Km28, de Alfredo Marcondes-SP, comunidade de umas 50 famílias, só duas não eram católicas, chamadas de crentes ou protestantes.
Não via muitas diferenças entre ser católico, caso da nossa família, e as dos amigos crentes dos nossos pais. A não ser o fato de não irem aos terços rezados por minha mãe, ou às missas mensais, os crentes eram iguais a todos os católicos, nem sempre praticantes.
Com o passar do tempo, já no Paraná, notava que os crentes tinham como característica usarem terno e gravata ao irem à igreja, portando bíblias, diferentemente dos católicos. Posteriormente os crentes protestantes passaram a ser chamados de evangélicos.
Até os meus 45 anos de idade fui um católico pouco praticante, que ia à missa aos domingos, só tendo confessado diretamente com padres uma única vez, preferindo as chamadas confissões comunitárias, e comungando regularmente.
Em 1996 comecei a estudar a Doutrina Espírita, e questionar o título de evangélicos e de cristãos ( com exclusividade), que os crentes da minha infância, se auto atribuem.
Penso que evangélicos são todos os que procuram pautar suas vidas pelos ensinamentos de Jesus Cristo, trazidos pelos evangelistas no Novo Testamento, portanto são cristãos, independente do rótulo de católicos, protestantes,espíritas ou de qualquer outra denominação. E crentes todos que acreditam verdadeiramente em Deus.
E qual a minha religião? Talvez eu possa ser considerado um crente, protestante, espiritualista. Crente porque não tenho dúvidas da existência de Deus e da força e a presença de Jesus Cristo na vida do Planeta Terra. Protestante, por ‘protestar’ contra a utilização da religião como meio profissional de vida e seu uso político, como vemos nas eleições. Espiritualista, por convicção que somos um Espírito, que ora estamos num corpo físico, ou fora dele, com corpo espiritual.
Formalmente me declaro espírita, cuja doutrina é, ao mesmo tempo, ciência, filosofia e religião, tendo cinco princípios básicos: a existência de Deus; a imortalidade da alma; pluralidade das existências; a comunicabilidade dos espíritos; a pluralidade dos mundos habitados. Mas poderia dizer, numa definição mais exótica, que sou crente, protestante, evangélico, espiritualista e católico, palavra que vem do grego kata (junto) e holos (todo), isto é, universal, que abrange tudo e reúne a todos, segundo diz o antropólogo e especialista em história das religiões Benedito Miguel Angelo.
Faço todo esse preâmbulo para refletirmos sobre o uso de Deus, Jesus, e da religião na política, especialmente a atual campanha e na atuação do presidente da república, que adotou o slogan: ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’, e participou da chamada marcha para Jesus, que sempre foi realizada no mesmo dia, em diversas cidades, e este ano, por uma deferência dos organizadores, aconteceu em dias diferentes, para que o presidente e outros políticos participassem dos eventos, que mais pareceram comícios, do que atos religioso.
Seriam os ‘evangélicos’ pessoas melhores? Diria que na política há evangélicos e ‘evangélicos’, No Rio de Janeiro, o pastor Everaldo, da Assembleia de Deus, presidente do PSC, foi preso e segundo delação do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, também era o chefe do esquema de corrupção que levou à compra superfaturada de respiradores na pandemia do covid-19.
Religiosos que entram para a política com discurso moralista contra os maus políticos e os maus costumes, se dizendo infensos à corrupção e aos pecadilhos humanos,não são garantia de bom comportamento, muito menos de solução para a moralidade.
A religião na política pode levar à sensação de impunidade, pois muitos estão crentes que basta aceitar Jesus como salvador ou confessar-se a um padre, que os pecados estarão lavados pelo sangue do Cristo.Não é bem assim.
Não nos enganemos com os estelionatários da fé, crentes a justiça divina, sem Aras.
Akino Maringá, colaborador
Foto – Reprodução
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