Um comentário de um amigo, em postagem que compartilhei, me fez lembrar que, embora nunca tenha dado um tiro, e não soubesse manusear um revolver, além de ter verdadeiro pavor de qualquer tipo de arma de fogo, fui obrigado a andar armado entre os anos 73 e 75, em pleno regime militar e nem por isso me senti mais seguro, muito pelo contrário.
A postagem e comentário são os seguintes: ‘Sou a favor do porte de flautas, violinos, tambores, harpas, pincéis e tintas, vozes e também de livros’. O colega aposentado do Banco do Brasil,Demétrio, que é um bolsonarista raiz, com verdadeira ojeriza da esquerda, comentou: ‘Eu também. Mas para que tudo isso não seja roubado por bandidos armados, que a esquerda protege, prefiro ainda portar armas.
Veja que a postagem não fala em armas, mas meu amigo, conhecendo a minha posição contra à liberação, quase que indiscriminadamente do porte, pelo governo Bolsonaro, logo associou a posição de quem compartilhou e aproveitou para falar da esquerda e suposta proteção de bandidos.
Como funcionários do Banco do Brasil, na década de 70, eu me amigo citado no começo, fomos designados algumas vezes, para fazer um trabalho que não era parte de nossas atribuições, o que transportar valores, da agência de Cascavel para a central em Foz do Iguaçu, distante 143 kms .
Os escolhidos não podiam se negar à prestação do serviço e para isso teriam que, num taxi, em dois funcionários, portar cada um, revolver 38, juntamente com um vigilante, também armado. Dá para imaginar a segurança? Eu, por exemplo, não sabia manusear uma arma, mesmo assim tinha que colocá-la na cinta, embora, justiça seja feita, nunca um superior tenha me pediu para reagir, se houvesse um assalto. Eram outros tempos, roubos e assaltos raros, e para se ter uma idéia, a república dos funcionários, que morávamos, nem chaves tinha nas portas.
Felizmente não houve qualquer problema e nunca nenhum funcionário precisou usar os revolveres, apesar da obrigação que tínhamos de andarmos armados.
A propósito, será que armar a população dará mais segurança ? Especialistas relatam que a existência de uma arma em casa possibilita, estatisticamente, maior ocorrência de mortes por pequenos conflitos, em família. Ou pelo uso, sem autorização, por parte dos filhos. Aliás, a presença de arma em casa pode favorecer acidentes ou suicídios, sobretudo de crianças/adolescentes ou pessoas idosas.
Nós, espíritas, sabemos quanto a influência espiritual sobre as almas encarnadas que, perturbadora, poderá agravar os casos de conflitos armados, desde que se tenha uma arma à disposição. Porte de arma, nas ruas, pode aumentar a ocorrência de mortes, sobretudo em pequenos desentendimentos de trânsito, ou em brigas de bar.
A argumentação de que o cidadão estando armado em casa ou saindo portando arma estará livre de ser assaltado ou morto é falaciosa. Cria apenas uma falsa impressão de segurança, incapaz de dissuadir os mal intencionados, ou de evitar a ocorrência de crimes.
É , guardadas as devidas proporções, a situação que vivi na década 70, obrigado a andar armado pela direção do Banco do Brasil, para garantir que o dinheiro que transportávamos estava garantido e seguro contra roubos, mas no fundo estava armado e inseguro, ou mais inseguro do que se estivesse desarmado. Acredito que, como diz Bolsonaro, Deus está acima de tudo e tomados os cuidados recomendados, respeitando o livre-arbítrio, nada de mal vai nos acontecer, se não estiver na programação espiritual.
E concluo deixando a frase do título para reflexão, pois um ser humano, exceto os profissionais da segurança e em legítima defesa própria e da sociedade, que sai armado, pode se tornar ‘um desalmado’, matando semelhantes, e se arrepender pelo resto da existência.
Akino Maringá, colaborador
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