Lixo, isqueiro, objetos que provavelmente foram usados para o consumo de drogas, entre outros itens são encontrados com frequência em alguns pontos de Maringá. Na Avenida XV de Novembro, esquina com a Herval, onde fica o prédio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) a cena é comum. No local, durante a manhã, ainda é possível ver os responsáveis disso tudo: pessoas em situação de rua que fazem do prédio um abrigo. Situação que causa incômodo e preocupação em comerciantes e moradores da região.
A proprietária de uma loja de roupas na Avenida Herval, que prefere não se identificar, conta que são cerca de seis homens e mulheres que chegam ao local no início da noite. Por lá, já começam a se acomodar com caixas de papelão, cobertores e outros itens. Algumas vezes preparam até algo para comer e, frequentemente, usam drogas durante a madrugada.
“Nunca tive problema direto com eles. Mas é uma situação que me deixa acuada. Não porque são pessoas ruins, mas porque muitas vezes podem estar sob efeito de drogas. Geralmente eles saem pela manhã e devem ficar em outros pontos da Cidade. Mas já teve vez de chegar para abrir a loja e esse pessoal ainda estar perto. Momento que prefiro entrar para loja e até esperar um pouco mais para abrir o estabelecimento”, confessou ela.
O gerente de um restaurante na Avenida 15 de Novembro informou que já chegou a fornecer marmitas para os moradores de rua. Todos foram educados e aceitaram. Identificou ainda que sempre existem novas pessoas dormindo no prédio da esquina e também em outras marquises. A sujeira já chegou até a porta do restaurantes algumas vezes.
“Até latinhas retorcidas nós já recolhemos. E sabemos que esse tipo de material é usado para consumo de drogas, crack no caso. Também já teve isqueiro vazio, papel queimado, restos de comida, e por aí vai. Sem contar o cheiro ruim que acaba ficando no local. Dá medo sim, nos protegemos, mas nunca se sabe o que pode acontecer, principalmente na madrugada. A Prefeitura precisa dar um jeito nessa situação e dar condições pra essas pessoas dormirem em um lugar limpo, confortável e seguro”, concluiu o profissional.
De acordo com a página da Secretaria de Assistência Social (SAS) existem algumas frentes diferentes de acolhimentos no município, destinados a famílias e/ou indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados. A organização descreve a garantia de privacidade, respeito aos costumes, tradições e à diversidade. O trabalho é feito abrigando crianças em situação de risco pessoal e social; adolescentes de ambos os sexos com famílias ou responsáveis temporariamente impossibilitados de cumprir as funções de cuidado e proteção; acolhimento de adultos a partir de 18 anos com direito de permanência e usufruto do Abrigo Municipal; e para idosos a partir de 60 anos, homens e mulheres, na Casa Lar Benedito Franchini.
Esse mês, por conta das baixas temperaturas registradas, a abordagem de pessoas em vulnerabilidade social foi intensificada. A Prefeitura criou um abrigo provisório e logo nos primeiros dias o espaço estava atuando com a capacidade total de 50 abrigados. Somente na primeira noite 29 pessoas aceitaram irem para o abrigo. O número é pequeno perto das 110 abordagens realizadas em uma única noite. No local foi oferecido roupa, banho, cobertores e alimentação; além de orientações e encaminhamentos para vagas de emprego.
Um dos homens que aceitou ir para o abrigo relatou o por que muitos não aceitam ajuda. Ele, por exemplo, relutou pela ajuda. Esse homem sofreu uma tentativa de homicídio há poucos meses, quem o salvou foi a cadelinha de estimação que entrou na frente do agressor. Por conta dessa violência, o principal receio dele era de que o agressor descobrisse o local do abrigo provisório e fosse até o local. Ele só foi abrigado após ouvir dos assistentes sociais que o endereço do prédio não seria divulgado. O animal de estimação dele também foi acolhido.
Outro motivo que leva a negativa de auxílio é a permanência nas drogas. Estar na rua é um facilitador de acesso e consumo. Em depoimento, um jovem abrigado revelou que o frio é insuportável, mas a droga proporciona um “aumento da temperatura e facilita passar os dias mais gelados”. O problema é que ele não sabe, ou ignora, que esse é um comportamento perigoso. Especialistas, que participaram de um estudo publicado na revista “Annals of Internal Medicine”, afirmaram que a cocaína parece impedir o funcionamento do sistema que controla a temperatura do corpo, fato que leva os usuários a apresentar aquecimento excessivo do organismo.
Em um trecho do estudo é descrito que “os efeitos hipertérmicos da cocaína são bastante amplificados quando a droga é usada em situações de temperaturas extremas. Isso pode resultar em lesões graves relacionadas ao aquecimento, que incluem cãibras, exaustão, derrame e até morte.”
Por conta de uma burocracia no processo de comunicação com a Assessoria da Prefeitura de Maringá, não foi possível obter a informação de quantas pessoas vivem, atualmente, em situação de rua no município. A última estimativa divulgada pelo Observatório das Metrópoles, vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2020, apontou que existem cerca de 478 pessoas nessas condições. Destacando na época que muitos aceitaram acolhimento por conta do contexto de pandemia.
Quanto a situação com os moradores de rua que se abrigam no prédio do Gaeco, a única resposta da administração municipal foi que “se há reclamações, a equipe que atende a Ouvidoria 156 não passou informações”. Além disso que “o trabalho em todos os locais onde têm moradores de rua é rotineiro. A maioria não aceita ir para abrigos e a Prefeitura não pode obrigar ninguém a sair da rua”. O serviço é 24 horas e junto com a Provopar recebendo agasalhos e cuidado.
Se encontrar uma pessoa de rua passando frio, a recomendação é que ligue para o telefone (44) 99103-5661. Para mais informações a respeito dos pontos de arrecadações ligue (44) 3221-1508, (44) 3221-1280, (44) 99876-9420, ou entregue a doação direto na Provopar, no Paço Municipal.
Victor Cardoso
Foto – Maringá Mais
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