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Sinodalidade

Uma das palavras mais ouvidas neste momento, em todo o mundo, é “sinodalidade”. De “hodós” (odo), que vem lá do grego e significa em português caminho, caminhar, caminhada. No automóvel, por exemplo, há um aparelhinho chamado “hodômetro” (ou “odômetro”), cuja função é medir o caminho percorrido. Conforme o afixo que se acople a “odo”, vamos formando outras palavras:  “êxodo” – caminhada para fora, saída; “período” – caminhada em redor (em relação ao tempo, uma volta completa: uma hora, um dia, um ano).    
    
“Syn” (sin) significa junto, unido. Daí temos “sínodo” = caminhar juntos. É o nome da grande reunião de toda a Igreja Católica convocada pelo papa Francisco e que irá até 2023. Algo quase tão importante quanto o Concílio Vaticano II. E pelo que já se pode prever trará mudanças muito profundas, não apenas para os católicos, mas para toda a humanidade. 
    
A Igreja de Roma foi sempre vista como uma monarquia, com o poder quase absoluto concentrado nas mãos do papa (“Roma locuta, causa finita”). Porém Francisco decidiu iniciar uma ampla abertura democrática. Ele quer uma Igreja sinodal – pastor e ovelhas caminhando, pensando e decidindo juntos. Vox Pastoris + Vox Populi = Vox Dei.Sem dúvida, uma demonstração de extraordinária coragem e de irrestrita fé na ação do Espírito Santo.
    
O sínodo ouvirá bispos, padres, freiras, frades, leigos e leigas, provavelmente também representantes de outras religiões. “Conservadores” e “progressistas”, em discursos moderados ou acalorados, debaterão antigas questões polêmicas, tais como celibato dos padres, ordenação de mulheres para o sacerdócio, ecumenismo, espiritualidade dos recasados, sexualidade, interação fé-ciência, justiça social, mudanças climáticas, liberdade de expressão, enfim tudo o que possa interessar à felicidade humana. 
    
Claro que em meio a tão complexos entrechoques haverá alguns riscos. Todavia Francisco tem dado sinais de que confia num arremate feliz: um santo consenso que possibilite a “afinação da orquestra”, ou seja, a fraterna unidade dentro da diversidade.
    
É fundamental, porém, primeiro que tudo, lembrar que todo consenso começa pelo bom senso, e que o bom senso, neste instante, parece estar de joelhos pedindo: – Serenai-vos. Serenai as rivalidades, os preconceitos, os radicalismos, que tanto dificultam a comunhão das almas e dos corações.
    
Só assim será possível pensar numa Igreja realmente sinodal.   
    
Uma Igreja de irmãos que caminhem juntos e de mãos dadas, como Jesus ensina.
    
Uma Igreja acolhedora, mais máter do que magistra – mais colo, mais ouvido, mais ternura, mais abraço, mais bondade, mais perdão, mais humildade, mais alegria. 
    
Uma comunidade amorosa, onde as pessoas possam de fato se sentir família de Deus. 

A. A. de Assis
Foto – Reprodução

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