Quando o assunto é educação, não existem posições definitivas. Nem uma única forma de ensinar e/ou de aprender. Ser flexível, rever conceitos são atitudes fundamentais – tanto ao pesquisador da educação quanto ao professor. Experimentar novas metodologias, buscar inspiração em colegas que estão tendo sucesso em sala são atitudes de um(a) educador(a) inteligente.
O educador também é um aluno. Por vezes, um aluno de seus alunos. Ouvir e aprender com eles é ser sábio. O professor não sabe tudo. Nunca saberá. Outras vezes, os sinais emitidos pelos alunos sugerem que é preciso rever a proposta pedagógica ou mesmo o jeito de ensinar. Manter-se fiel aos mesmos métodos, as mesmas fórmulas, é a receita garantida do fracasso. Cada turma é única e aprende de um jeito muito particular.
Como pai de alunos, professor e pesquisador da educação, noto que alguns colegas ainda se incomodam com o desinteresse do aluno e o culpam por isso. Na tentativa de fazê-lo permanecer em sala e se envolver com o programa da disciplina, criam estratégias das mais variadas que tornam aquele espaço quase um quartel militar.
Recordo que quando comecei a dar aulas, era um desses professores dispostos a tudo para manter o acadêmico em sala – ainda que não estivesse interessado em minhas aulas. Uns quatro anos depois de minha estreia como professor, conversando com uma jovem, que havia sido uma das minhas alunas mais brilhantes, aprendi uma grande lição: a melhor maneira de fazer o acadêmico estar em sala é despertar nele o desejo pelo conhecimento que tenho a oferecer. O que eu digo, o que eu falo, o que eu ensino tem que fazer algum sentido. Eu tenho que oferecer algo que possa mexer com eles. Não é fazê-los rir. Professores não são humoristas. Porém, o encanto deve estar no conhecimento. O saber atrai.
Se o aluno percebe que o professor tem algo a oferecer e este saber pode lhe ser interessante, ele estará em sala. O conhecimento é o que deve estimular, não as ferramentas coercitivas.
Esta “filosofia” de trabalho é transformadora. Por duas razões: reconheço minha responsabilidade em provocar o desejo pelo conhecimento ao mesmo tempo dou liberdade ao aluno de escolher se quer ou não aprender. É fato que, como professor, sei do meu dever de levar o aluno à compreensão de que aprender fará a diferença na vida dele. Afinal, na juventude, nem sempre se tem a maturidade para entender a importância do conhecimento. Ainda assim, a educação é um lugar de liberdade e é preciso desejar o saber.
Não é simples encarar os alunos e impactá-los. Mas confiar no que se tem para oferecer e ter domínio daquilo que se ensina garantem autoridade ao professor para fazer com que cada aula seja especial.
A mudança de método me fez descobrir que o docente, ao demonstrar claro interesse em promover o conhecimento ao aluno, consegue aquilo que o professor preso aos esquematismos não consegue: alunos envolvidos.
O prazer maior diante de uma sala interessada, que não dorme durante a aula, é do próprio educador. Ganha o professor, ganham os alunos, já que estes descobrem que a aquisição do saber – ainda que seja um processo desgastante, cansativo – não deve ser por obrigação, mas por uma escolha consciente.
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Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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