A realidade que enxergamos nunca é a realidade, trata-se apenas da imagem que temos da realidade. Filosófico demais? Vou complicar um pouco mais. Frequentemente, repito para meus alunos: a gente enxerga o mundo da nossa janela.
Essas duas ideias estão conectadas e resumem algo precioso, que pode mudar nossa atitude diante das pessoas e nas nossas relações com o mundo: o que a gente pensa a respeito das coisas responde a um modelo mental que construímos ao longo da vida. Na verdade, digo “construímos”, mas esse é um processo inconsciente, não somos capazes de perceber o desenvolvimento desse “modelo”.
E, detalhe, cada pessoa possui o seu modelo mental.
Anos atrás, um neurocientista apresentou a Ed Catmull e outros diretores da Pixar uma pesquisa que ajuda a ilustrar parte da complexidade dessa ideia: ele provou que, como regra, nossos olhos captam apenas 40% das cenas que somos expostos. Ou seja, mesmo quando estamos presentes num determinado acontecimento, não enxergamos 60% do que acontece. É por isso que somos facilmente iludidos pelos mágicos. Pouquíssimas vezes, reparamos no truque. Acontece um fenômeno semelhante diante dos demais fatos cotidianos. Por que então temos a impressão que entendemos ou vimos tudo que aconteceu? Porque nosso cérebro age em milésimos de segundos completando as lacunas e criando uma história.
Noutras palavras, sendo um tanto simplista, diria que a cena que enxergamos é 40% de realidade e 60% de imaginação criativa – algo mágico e especial que só nosso cérebro é capaz de produzir.
E como esses 60% imaginados são produzidos? A partir do modelo mental que cada um de nós possui, e que foi construído ao longo da nossa história, tendo como referência tudo que aprendemos em nossa infância, na educação que recebemos, nos filmes e livros que lemos etc. Enfim, nossas inúmeras experiências, que sequer estão presentes em nosso consciente, indicam uma maneira de ler os acontecimentos. Nosso cérebro faz o resto.
Bem, Ronaldo, qual a importância de entender isso? – talvez você pergunte.
Simples, quando você aceita que aquilo que acredita sobre os acontecimentos, sobre as pessoas… Aquilo que você avalia como sendo a realidade é apenas um pedacinho da realidade, mas não a realidade em si; quando compreende isso, você entende que o seu colega, o seu vizinho, o seu amigo de Facebook, a sua mulher/marido pode não estar necessariamente errado. Da mesma forma que seu cérebro criou uma historinha sobre aquilo que acha ser a realidade, o cérebro dessa outra pessoa também criou uma historinha de acordo com o modelo mental que ela possui – essa imagem (projeção da realidade) não é necessariamente pior ou melhor do que a sua.
Ao entendermos isso, avançamos como seres humanos, questionando nossas próprias verdades. Em síntese, isso ajuda a ser mais tolerante, paciente e menos dono da razão.
—
Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
Visite meu blog:
http://ronaldonezo.com
Siga-me no twitter:
http://twitter.com/ronaldonezo