A quantidade de informações produzidas atualmente é muito maior do que a nossa capacidade de acessá-las e consumi-las. É simplesmente impossível saber sobre tudo. E nem estou falando do saber científico; falo dos fatos cotidianos que circulam pelas redes sociais, whatsapp e pelas mídias. Por exemplo, você leitor do Jornal do Povo, leu todas as páginas do jornal nesta semana? Recorda de pelo menos três manchetes?
Fique tranquilo. Não é sua culpa. Isso acontece como efeito de um fenômeno recente. Temos tantos conteúdos – inclusive de qualidade – que tornou-se impossível acompanhar tudo. Além disso, nosso cérebro também se protege – coloca algumas coisas em stand-by e deixa a memória recente livre para novas informações.
Vivo essa experiência com bastante regularidade. Frequentemente, meus alunos comentam: professor, você ficou sabendo de tal coisa? Não raras vezes, não tenho a menor ideia do que estão falando. Admito que, nos primeiros anos em sala de aula, me sentia um tanto constrangido, mas, com a popularização das mídias digitais, não sinto vergonha alguma em dizer: “tô por fora!”. Peço que relatem o fato e, assim, tenho acesso as novidades que eles têm para compartilhar.
Ninguém tem a obrigação de saber sobre tudo. Porém, embora seja reconhecidamente impossível ter acesso a todas as informações, algo se torna cada vez mais fundamental: filtrar tudo o que consumimos. Tem muito lixo sendo ofertado como informação, como notícia ou como opinião especializada. É fácil se enganar e tomar como conteúdo relevante aquilo que não passa de um simulacro ou até uma notícia/informação falsa.
A pesquisadora norte-americana Maryanne Wolf ressalta que corremos o risco de nos iludirmos com as informações que chegam até nós. Na prática, segundo ela, muita gente vive a ilusão de estar informado por esse dilúvio diário de informações dimensionadas eletronicamente para os nossos olhos.
Ela lembra que “num meio que nos defronta continuamente com um excesso de informações, a grande tentação de muitos é se retirar para depósitos conhecidos de informações facilmente digeríveis, menos densas, intelectualmente menos exigentes”.
Conteúdos simples, que circulam por meio do whatsapp, redes sociais, em vídeos de youtubers, geralmente oferecem explicações simplistas sobre os fenômenos e acontecimentos do cotidiano – isso quando não são produzidos tendo como referência pseudo verdades e opiniões pouco embasadas, em certas ocasiões com a intenção de promover a desinformação.
E não é difícil observar que as pessoas têm experimentado essa sensação de que possuem conhecimento sobre quase tudo. Basta notar a disposição que muita gente tem em opinar sobre política, cultura, arte, educação… Na prática, a saturação de informações tem comprometido a capacidade de análise crítica de nossas realidades, que quase sempre são muito mais complexas do que acreditamos.
Portanto, fica aqui uma dica: aprenda a filtrar. Escolha três ou quatro fontes de informação fidedignas, com uma história, trabalho sério de apuração e que oferecem conteúdos aprofundados. Além disso, coloque um ponto de interrogação em tudo que chega fácil no seu whatsapp. A chance de ser uma explicação simplista, pobre e até fake news é muito grande.
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Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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