Está mais do que provado que a leitura é uma estratégia poderosa para turbinar o cérebro. Além dos inúmeros benefícios que a leitura traz para nossa vida, ela também mantém as conexões neurais ativas e participa de um processo importante conhecido como plasticidade neural.Curiosamente, até mesmo pessoas que aprendem a ler na fase adulta são beneficiadas pela introdução do novo hábito. Segundo pesquisadores, as estruturas mais profundas do cérebro, como o tálamo e o tronco cerebral (ou tronco encefálico, responsável pelo sistema nervoso central), mudam e acoplam sua atividade com as camadas externas do cérebro.
Entretanto, o uso das tecnologias digitais preocupa inúmeros pesquisadores. Embora as telas sejam fundamentais no nosso dia a dia, elas têm roubado nossa atenção e já existem estudos apontando que, no Brasil, em média, as pessoas chegam a ficar mais de dez horas por dia diante das telas – celulares, tablets, computadores, televisores etc.
Isso tem efeitos sobre nossa saúde física e emocional. Mas também há consequências para o cérebro, que se torna mais preguiçoso, ansioso e distraído. Os efeitos negativos sobre a capacidade de ler e compreender um texto são enormes. A pesquisadora Maryanne Wolf explica que “a organização dos circuitos do cérebro leitor pode ser alterada pelas características singulares da mídia digital, particularmente nos jovens”.
De certa forma, o uso excessivo das tecnologias digitais produz um desarranjo nos circuitos cerebrais, reconfigurando nosso cérebro. E ainda que existam certos benefícios no uso das telas, aplicativos etc. – como o aumento da habilidade de ver várias coisas ao mesmo tempo -, a perda do pensamento profundo, da concentração e de fazer conexões estão entre os principais prejuízos para o cérebro.
Justamente por isso pesquisadores como Maryanne Wolf ressaltam que, desde a infância, os pais precisam estimular os filhos a lerem livros. E, preferencialmente, livros impressos, de papel. O contato com a obra num formato material, palpável, produz benefícios para o cérebro que vão além dos benefícios da leitura. Entre eles, da percepção de continuidade e contexto.
Segundo ela, se não considerarmos os riscos das tecnologias digitais, “haverá profundas diferenças em como lemos e em como pensamos, dependendo dos processos que dominam a formação do circuito jovem de leitura das crianças”.
Por isso, recomenda-se que, nos primeiros anos de vida, as crianças tenham acesso ao mínimo possível de telas. E, enquanto as crianças não leem sozinhas, recomenda-se que os pais leiam para os filhos. Isso desenvolve a imaginação e a criatividade das crianças, além de estabelecer vínculos afetivos profundos entre pais e filhos.
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Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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