Num dos inúmeros grupos de trabalho no whatsapp, a polêmica começou quando alguém divulgou um vídeo defendendo um determinado “tratamento inicial” para a covid-19. Rapidamente, o clima esquentou e notei que algumas pessoas se ofenderam.
O moderador do grupo procurou acalmar os ânimos e lembrou que todo debate é válido.
Cá com meus botões, fiquei pensando: será que o debate em grupos de whatsapp ou mesmo nas redes tem algum valor? Será que todo debate é válido?
Do ponto de vista conceitual, debates se distinguem do diálogo. Debates objetivam dar visibilidade aos posicionamentos das partes envolvidas. Não há concessões. O foco do debate é o enfrentamento. E, para ser bem sucedido no debate, o que vale não é necessariamente o conteúdo, mas o efeito das palavras a fim de desestabilizar os demais debatedores.
Na prática, o debate pouco acrescenta. Trata-se de um espetáculo verbal. Como gênero textual, o debate geralmente é interessante apenas para quem assiste. Diverte, provoca, gera torcida. Pode até resultar em algum aprendizado, mas se trata muito mais uma oportunidade para identificar quem organiza e defende melhor suas ideias do que para, de fato, ter a compreensão a respeito de um determinado tema. O debate é muito mais uma performance comunicacional e psicológica do que a exposição de um conteúdo qualificado.
Quando se trata de um “debate” num grupo de whatsapp ou nas redes sociais, o confronto é potencializado. Perde-se a referência do outro pela ausência física. O outro passa a ser somente um nome, uma imagem; a humanidade do outro é esvaziada. O outro torna-se um inimigo que precisa ser combatido e vencido. É necessário impor a sua ideia, a sua verdade, torná-la a verdade de todos. Nem sempre importa os custos disso. As emoções afloram, o coração acelera, falta oxigênio no cérebro e a razão escapa.
Nesses espaços virtuais, o debate dificilmente se abre para o aprendizado e para o questionamento das verdades que os envolvidos defendem. Na prática, tem grande chance de se tornar ofensivo e, por isso, não raras vezes, amizades se rompem, pessoas se distanciam. Aqueles que não participam – os espectadores – geralmente se sentem desconfortáveis e pouco absorvem os argumentos dos “debatedores”.
Por isso, se já tenho reservas aos debates pessoais, em locais e ocasiões que permitem a moderação, nos espaços virtuais, não vejo chance de haver mudanças no ponto de vista e opinião dos envolvidos. Pessoas fechadas em seus argumentos não escutam os argumentos alheios e tampouco colocam em xeque suas convicções. Quem assiste passivamente, raramente consegue acompanhar todas as informações que são relacionadas e estas, por estarem impregnadas de emoções negativas (raiva, vontade de destruir o argumento e até de ridicularizar o outro), não possuem a sensatez da racionalidade e tampouco fazem conexão com descobertas concretas e conhecimentos experimentados e comprovados.
Logo, entre participar desses debates ou assisti-los “de camarote”, prefiro ler um livro e/ou assistir uma aula.
Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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