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O que determina o padrão de beleza?

Quem determina o padrão de beleza? Afinal, há um padrão? Existe uma medida que defina as formas belas do corpo humano?

Confesso que também alimento estereótipos ou uma espécie de gosto pessoal. Penso que é preciso se cuidar. Desde os gregos, na antiguidade, o cuidado do corpo é uma forma de cuidar de si. Quem procura estar bem fisicamente, de alguma forma, sente-se mais confortável diante do espelho e também confiante para relacionar-se com outras pessoas e com o mundo.

Entretanto, me preocupam os extremos. Existem pessoas que simplesmente abandonam-se – seja por ansiedade ou outros problemas de origem emocional. E outras que tornam-se reféns de um padrão irracional de beleza. Por conta disso, sofrem. E sofrem muito.

Bulimia, anorexia e outros transtornos são doenças comuns nos dias atuais. Gente que se olha no espelho e vê uma distorcida de si mesma. Sem referências do próprio corpo e com noções completamente equivocadas do que é belo, abrem mão de viver.

As mulheres são as principais vítimas. Mas muitos homens também experimentam essa lógica irracional. Como sugere Augusto Cury, escalas irracionais de sensualidade levam homens e mulheres a se sentirem deficientes, deformados, não atraentes, não admirados.

Essas pessoas fazem de tudo, de exercício a intervenções cirúrgicas, para terem um corpo supostamente perfeito. Mas nunca estão satisfeitas.

Mulheres com barriguinha ou pequenas dobrinhas nas costas se submetem à lipoaspiração; aquelas que têm seios menores, colocam silicone; as que têm seios grandes, reduzem; mulheres magras passam semanas, meses em academias para ganhar massa muscular… Homens de várias idades tomam suplementos diversos para “crescer”. Precisam ficar saradões.

Embora as cirurgias plásticas sejam recursos interessantes e muito úteis para melhorar até mesmo a autoestima, existem pessoas que não se sentem felizes com seus corpos mesmo após inúmeras intervenções cirúrgicas. É doentio.

Há ainda outro agravante: os padrões estéticos mudam. Uma mulher como Luiza Brunet, sucesso como modelo nos anos 1980, não seria referência de beleza nas passarelas nos dias de hoje. E por falar em passarelas, quem inventou essa história de garotas de 15, 16 anos serem as referências de corpo para exibirem as novas coleções?

Às vezes chego a ter a impressão que existe uma intenção oculta em plantar a insatisfação constante, porque gente insatisfeita consigo mesmo consome mais, gasta mais. E basta ver o volume de vendas e a diversidade de produtos e serviços da indústria estética e farmacêutica para ficar com a sensação de que a insatisfação é alimentada por imagens irreais de beleza.

Acontece que mulheres reais não são feitas em máquinas. Não são produzidas em escala industrial. Possuem biotipos diferentes. Algumas são baixas, outras altas. Há aquelas medianas. Vale o mesmo para os homens. Tem gente magrinha. Tem gente mais forte. Alguns desenvolvem barriguinha com facilidade. Às vezes, culote. Esse é o mundo real da beleza.

Como disse lá no comecinho do texto, defendo a importância de cuidar-se. Estar bem. Mas o que é estar bem? Será que estar bem é agredir-se? Deixar de comer um pedacinho de chocolate após a refeição? Dividir uma pizza com a pessoa amada de vez em quando? Tomar um sorvete numa noite de calor? Ou estar bem é contar as calorias a cada porção que se coloca na boca? É ficar atrás da última receita da moda? Visitar o cirurgião plástico antes de todas as férias? Sofrer toda vez que vê a influencer do Instagram desfilar à beira da piscina (e lamentar-se por não ter o corpo dela)?

Gente, todo mundo tem alguma parte do corpo que não gosta e parece imperfeita. Não dá pra viver se lamentando por isso. Estar bem é estar saudável. É aceitar-se, amar-se. É ter disposição pra viver e pra fazer viver.


Ronaldo Nezo
Jornalista e Professor
Especialista em Psicopedagogia
Mestre em Letras | Doutor em Educação
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