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O céu e o inferno

A.A. de Assis, com quem tenho a honra de dividir espaço no Jornal do Povo, ele consagrado jornalista, poeta, cronista, escritor, produziu recentemente crônica com o título, como é céu, que ouso tentar responder (o título), à luz da doutrina Espírita, acrescentando sobre o inferno, que é o oposto. 

A palavra céu aplica-se em geral ao espaço indefinido que circunda a terra, e mais particularmente à parte que fica acima de nosso horizonte, vem do latim coelum, formado do grego coïlos, oco, côncavo, porque o céu parece aos olhos uma imensa concavidade. Os antigos acreditavam na existência de vários céus superpostos, compostos de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas cujo centro era a Terra. Essas esferas girando em torno da Terra arrastavam consigo os astros que se encontravam em seu circuito. 

As diferentes doutrinas referentes à morada dos bem-aventurados repousam todas sobre o duplo erro de que a terra é o centro do universo, e que a região dos astros é limitada. É além desse limite imaginário que todas colocaram esse domicílio afortunado e a morada do Onipotente. Singular anomalia que coloca o autor de todas as coisas, aquele que as governa todas, nos confins da criação, em vez de colocá-lo no centro de onde a irradiação de seu pensamento podia se estender a tudo!

A ciência, com a inexorável lógica dos fatos e da observação, levou suas luzes até às profundezas do espaço, e mostrou o vazio de todas essas teorias. A terra não é mais o eixo do universo, mas um dos menores astros rolando na imensidão; o próprio Sol não é mais do que o centro de um turbilhão planetário; as estrelas são inúmeros sóis em torno dos quais circulam mundos incontáveis, separados por distâncias somente acessíveis ao pensamento, embora nos pareçam tocar-se.

Neste conjunto, regido por leis eternas onde se revelam a sabedoria e a onipotência do Criador, a Terra aparece apenas como um ponto imperceptível, e um dos menos favorecidos para a habitabilidade. Desde logo se pergunta por que Deus teria feito dela a única sede da vida, e para aí teria relegado suas criaturas prediletas. Tudo, ao contrário, anuncia que a vida está em toda a parte, que a humanidade é infinita como o universo.

As ideias do homem são em razão do que ele sabe; como todas as descobertas importantes, a da constituição dos mundos deve ter-lhes dado outro curso. Sob o império desses novos conhecimentos, as crenças devem ter-se modificado: o céu foi deslocado; a região das estrelas, sendo sem limites, não pode mais servir-lhe? Onde está o céu? Diante desta pergunta, todas as religiões emudecem. O Espiritismo vem resolvê-la demonstrando o verdadeiro destino do homem. A natureza deste último, e os atributos de Deus sendo tomados por ponto de partida, chega-se à conclusão; ou seja, partindo do conhecido chegasse ao desconhecido por uma dedução lógica, sem falar das observações diretas que o Espiritismo permite fazer.

O homem é composto de corpo e de Espírito. O Espírito é o ser principal, o ser de razão, o ser inteligente; o corpo é o envoltório material que o Espírito reveste temporariamente para o cumprimento de sua missão na terra, e a execução do trabalho necessário ao seu avanço. O corpo, gasto, destrói-se, e o Espírito sobrevive à sua destruição. Sem o Espírito, o corpo não é mais do que uma matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o faz agir; sem o corpo, o Espírito é tudo: a vida e a inteligência. Deixando o corpo, ele volta ao mundo espiritual de onde saíra para se encarnar. Há portanto o mundo corporal, composto dos Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado pelos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido a seu envoltório material, estão ligados à Terra ou a qualquer outro globo; o mundo espiritual está em toda a parte, à nossa volta e no espaço; nenhum limite lhes é designado. Devido à natureza fluídica de seu envoltório, os seres que o compõem, em vez de se arrastar penosamente pelo chão, vencem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos vínculos que os mantinham cativos.

E o céu e o inferno verdadeiramente existem? Estão eles localizados em algum lugar circunscrito, como, por exemplo, no espaço sideral ou no centro da Terra; ou representam a condição íntima de cada indivíduo? Por que temos tanto medo do inferno? E como fazer, então, para conquistar o céu?

Com o Espiritismo, podemos aprender que o “céu” ou o “inferno” começam, invariavelmente, dentro de nós, visto exprimirem o equilíbrio ou a perturbação, a alegria ou a dor, a consciência em paz pelo bem realizado, ou a que se encontra carregada de remorsos pelos equívocos cometidos. Estejamos encarnados – vivendo na Terra – ou desencarnados – habitando esferas do mundo espiritual –, tudo o que nos rodeia foi, inicialmente, gerado em nosso próprio íntimo, porque são os nossos sentimentos e pensamentos que determinam a realidade que nos envolve. Quando, verdadeiramente, nos conscientizarmos da capacidade que todos possuímos de materializar no exterior o que somos por dentro, entenderemos que cada um de nós vive no mundo de luz ou de trevas que escolheu para si próprio.

O dogma do inferno, como sendo uma região horrível de dores, sem esperanças e sem termo, síntese de todas as agonias e suplícios – representa a extrema negação da onipresença e onipotência de Deus e, obviamente, de Sua bondade, misericórdia e justiça, pois não se concebe Seu controle e Sua autoridade nessa região de desespero sem fim. No entendimento teológico, o inferno é um lugar onde as almas sofrem eternamente. Na visão espírita, trata-se de um estado d’alma transitório, que existe enquanto a criatura desrespeitar as leis de equilíbrio e harmonia que sustentam o Universo, ou permitir que prevaleça em seu íntimo a rebeldia, a revolta, o sofrimento, a angústia…

E para responder ao A.A. de Assis, sobre como é o céu, podemos dizer  que devido à crença de que o céu se trata de uma realidade caracterizada pelo “doce fazer nada”, onde ficaremos eternamente cantando hosanas a Deus, mais uma vez nos reportamos a Kardec: Tudo na Natureza, desde o grão de areia, canta, quer dizer, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. Mas não creiamos que os Espíritos bem-aventurados estejam em contemplação durante a eternidade, pois isso seria uma felicidade estúpida e monótona. Seria mais a do egoísta, uma vez que sua existência seria uma inutilidade sem-termo. Eles não têm mais as tribulações da existência corporal; já é um gozo. Aliás, como dissemos, eles conhecem e sabem todas as coisas e aproveitam a inteligência que adquiriram para ajudar o progresso dos outros Espíritos. É sua ocupação e, ao mesmo tempo, um prazer. 

E assim concluímos que o Céu, na prática, não existe, e se existisse como o descrevem, seria muito chato. Já o inferno é mais real, embora sem o tradicional fogo eterno e um lugar determinado na profundeza da terra. (fonte de consulta, Kardecpedia)

(*)Akino Maringá, colaborador do Blog do Rigon
Foto – Reprodução

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